Quatro obras de arte passam a dar as boas-vindas nas entradas do concelho
A Nazarena é a primeira criação artística de Bugalho Ferros já visível no concelho. Foi inaugurada no feriado municipal.
O famoso artista espanhol Pablo Picasso (1881-1973) disse que o propósito da arte é tirar a poeira da vida diária de nossas almas. Desde a passada sexta-feira, 8 de setembro, uma das entradas no concelho da Nazaré comunica, com quem entra para a sede do concelho, parte das suas raízes culturais com uma escultura imponente, de olhos postos no mar e de mãos fixas na cintura.
A Nazarena, uma estátua de quase 6 metros de altura, instalada na rotunda do Matadouro, é uma homenagem às mulheres, que remete para o passado, à ansiedade conjugada com as longas horas de espera pelo regresso dos barcos e dos homens, maridos, pais, e filhos, a terra.
A obra faz parte de um conjunto de trabalhos contratados ao artista alcobacense, Bugalho Ferros, que irá criar uma abóbora gigante para a rotunda de entrada em Valado dos Frades, o Brasão da Freguesia de Famalicão para a entrada naquela povoação e a Onda Gigante para a rotunda de acesso ao IC9.
O criador fala de um trabalho que leva vários meses e da busca pela perfeição que não cessa após a entrega da peça ao cliente.
“Quanto mais difícil, mais interesse tem”, num material desafiante, como é o aço corten, mais resistente às condições climáticas, “resiste muito às intempéries”, mas muito difícil de moldar, daí que depois de concebida a ideia do que se quer é preciso ir moldando as placas, ao longo de longos meses, até “o transformar naquilo que quero.”
O material é “aquele com que trabalho, que conheço, e que tento transformar naquilo que quero. A ideia de o fazer chegar àquela imagem leva muitas semanas, muitos meses. Esta levou quase dois anos a concluir “e, no fim, o artista fica sempre com a sensação que poderia ter feito um pouco diferente alguns dos aspetos que se tornaram já públicos.
O aço corten começou a ser usado, há uns anos, na Alemanha e Holanda, por ser um material muito resistente e ideal para povoações próximas do mar, que corrói materiais metálicos.
A próxima obra será a abóbora com 6 metros de diâmetro e 5 metros de altura, que ficará instalada numa das entradas do Valado, freguesia do concelho.
Sem boca e sem nariz, a nazarena tem suscitado aceso debate entre os que gostam e não gostam, mas o artista criador diz que “não há ninguém que olhe para a estátua e não veja ali a mulher nazarena. A pessoa só precisa de escassos segundos para identificar uma nazarena. É isso que se pretende e foi isso que se conseguiu”.
Às criticas, que acolhe como pensamentos divergentes da sua visão, o escultor responde: “a arte sem polémica não é arte. Arte que agrade a todos também não é arte”, deve despertar o debate e dinamizar o pensamento.
“Já ouvi várias criticas que a estátua não tem boca, não tem nariz, não tem olhos. Mas isto é uma homenagem à mulher nazarena. Não há ninguém que olhe para lá e não veja a mulher nazarena, com as suas saias, as rendas, o seu avental, o lenço, o chapéu, os brincos de rainha. Não precisam de olhar mais do que escassos segundos para concluir que se trata de uma nazarena”.
A arte é essencialmente a afirmação, a bênção e a divinização da existência, escreveu Friedrich Wilhelm Nietzsche, um filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano do século XIX, e, também por isso, a Nazarena representa uma cultura e todas as mulheres, a sociedade, a forma como se compôs ao longo de décadas, o papel feminino na construção da terra, e as raizes culturais em geral, alicerçadas no mar, na pesca, nos pescadores, na imensidão, no medo, na sobrevivência, e na contemplação da natureza.
Apresenta-se, a quem chega do Sítio, Pederneira ou Praia, vestida a rigor, com todos os acessórios característicos do traje feminino local: as 7 saias, o avental bordado e o seu imponente laço atrás, os brincos à rainha e o chapéu com a borla, em formas generosas, que conferem o volume pretendido ao traje rodado. A sua atenção está concentrada no mar, a aguardar o regresso vivo de quem ama.
António Spinosa, destacado escultor com vasto e distinto currículo artístico internacional, que também usa este material para transformar ideias em arte acredita que “o pensamento é responsável pela existência da matéria. Portanto, matéria e pensamento são a mesma coisa! Esse conceito extraordinário onde o pensamento é a causa de tudo, deve nos lembrar de que não estamos isolados, de que tudo e todos estamos interligados em causa e efeito. Por isso, todos nós temos a responsabilidade sobre a qualidade da vida nesse planeta".
Sobre as obras, que serão 4 no total (a abóbora em Valado dos Frades, o Brasão em Famalicão e a Onda Gigante da Praia do Norte na entrada para o IC9), Walter Chicharro, Presidente da Câmara, explica que o projeto “surgiu há uns anos, ainda, no primeiro mandato (2013)” com o propósito de embelezar as entradas para o concelho “com elementos identificativos da cultura local”.
Foram realizadas reuniões com os executivos das Juntas de Freguesia para saber quais as imagens sugeridas para as entradas nas suas povoações, sendo as propostas que irão ficar instaladas, em cada uma das rotundas, o resultado dessa auscultação.
A Nazarena homenageia a mulher nazarena, e tudo o que ela representa na construção social da vila, mas também comunica as geminações existentes com o concelho. A envolvente à estátua contém os nomes de todos os locais e cidades geminadas com a Nazaré, e, por isso, o monumento é, também, uma homenagem aos povos irmãos.
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