Comemorações do 25 de Abril na Nazaré
A sessão comemorativa dos 49 anos do 25 de Abril na Nazaré começou com a cerimónia do hastear da bandeira, nos Paços do Concelho, seguida pelos discursos alusivos à data pelos representantes dos partidos com assento na Assembleia Municipal da Nazaré.
Telma Ferreira, pelo Bloco de esquerda, apelidou o 49º aniversário do 25 de Abril de 1974 como “um dos momentos mais importantes da nossa história coletiva”, declarando que “não é apenas uma data simbólica, não é apenas um pormenor que passou por nós. Foi um processo de transformação social que condicionou e alterou o nosso presente.
A vitória da liberdade e da democracia contra o fascismo e a opressão permitiram iniciar a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna”.
“Com a Revolução dos Cravos ampliaram-se os direitos de cidadania, implantou-se a democracia e desenvolveu-se o Estado Social. Conquistou-se o direito à participação política, democratizou-se a educação, criou-se o Serviço Nacional de Saúde e garantiu-se o direito à habitação. Terminou-se com a guerra e o colonialismo português. A Constituição da República consagrou as liberdades e os direitos democráticos, sociais e laborais conquistados no processo revolucionário”.
Telma Ferreira referiu que as conquistas económicas e direitos de cidadania alcançados com a revolução de abril não são irreversíveis e “devem ser defendidos e protegidos contra a exploração laboral, as discriminações e a violência. Manter vivo o espírito de abril implica aprofundar a democracia e combater as desigualdades e a exclusão social.
A perda de poder de compra, os baixos salários, o desemprego e a precariedade laboral são ataques aos direitos de quem trabalha e um obstáculo à liberdade”.
O discurso da representante do BE passou ainda pela diversidade étnico-racial da sociedade portuguesa que “deve ser acolhida e respeitada, garantindo a todos os cidadãos nascidos em território nacional, a nacionalidade portuguesa.
As políticas de imigração criam inúmeras dificuldades aos imigrantes, que tanto contribuem para o desenvolvimento social e económico do país”.
A crise no acesso à habitação também foi referida no discurso com Telma Ferreira a dizer que “a reduzida percentagem de habitação pública que existe, demonstra bem o que têm sido as prioridades dos sucessivos governos nacionais e locais, todas as prioridades e políticas de habitação foram e vão na direção do mercado, da especulação e dos interesses individuais de grandes proprietários”
Pela CDU, Samuel Fialho, destacou o 25 de Abril como sendo a “realização grandiosa da vontade do nosso povo, de afirmação de liberdade, de emancipação social, de progresso e de independência nacional” afirmando que “celebrar Abril é ter presente o que significou, as transformações que trouxe, as vitórias conseguidas, mas também os ataques da contra-revolução que duram até aos dias de hoje”.
Samuel Fialho falou dos principais problemas que, na opinião da CDU, atentam contra direitos conquistados em abril, como a habitação, a saúde e a educação, ao afirmar que no concelho faltam médicos e regista-se a “ausência de serviços de saúde dignos continuam a deixar muitos dos nossos munícipes desesperados quando precisam de recorrer a eles”.
“Outro problema absolutamente crucial é do acesso à habitação, sem dúvida de âmbito nacional, mas que, aqui, na Nazaré, ganha contornos particularmente preocupantes, muito graças ao modelo de turismo massificado”, o que, segundo a CDU leva a que muitos jovens procurem concelhos vizinhos para morar e constituir família.
O emprego qualificado, as dificuldades financeiras, a demografia, as obras, como as da APA nas arribas da Nazaré, foram outros aspetos focados nos discursos da CDU nestas comemorações de abril.
Tânia Gandaio, eleita pelo PSD, que se declarou da geração dos “filhos do Portugal desejado” e falou da situação atual no país para dizer “que a liberdade sem regras não é liberdade.”
“A classe média tende a desaparecer. Os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Urge um 25 de abril que permita aos jovens de igual modo” uma vida como aos dos outros europeus.
“Alarga-se o fosso entre estes extremos e extingue-se a Liberdade que conquistámos entre os poderes central e local cegos, dum lado, e a angústia do povo, do outro. Urge um 25 de Abril na sociedade portuguesa que permita aos nossos jovens competir com o mundo de igual modo que o mundo usufrui do melhor que temos por cá”
O SNS, a justiça, os salários e as oportunidades foram outros temas abordados pela eleita pelo PSD. “Não podemos aceitar uma sociedade onde a corrupção prolifera e a abstenção continua a vencer eleições.”
“Cabe-nos refletir e continuar a lutar em conjunto pela democracia e justiça social. É imperativo lutar contra populismos,” disse ainda a social-democrata, sublinhando que é importante igualmente lutar pela “liberdade, do respeito e da justiça social. É mais do que nunca imperativo agir contra todos os tipos de populismo e desigualdades, distinções ou discriminações, quaisquer que elas sejam”.
Carolina Pires Silva, a representante do PS na Assembleia Municipal, que disse ter crescido a ouvir sobre o significado de Abril declarou que este “não pode ser uma miragem. Não pode ser apenas uma história bonita, contudo distante. Abril tem de ser uma realidade. Um estilo de vida”.
“A um ano de se celebrar 50 da madrugada mais bonita da história portuguesa, parece que por vezes nos esquecemos. Permitimos que cresça discurso de ódio, racista, sexista, xenófobo, homofóbico, que apenas incentiva a desunião de um país”, disse a jovem eleita pelo PS.
A Socialista falou dos perigos dos discursos exacerbados, de discriminação e desigualdade salarial entre géneros e da imposição social “da escolha de família ou trabalho, em que é mínimo o número de mulheres em cargos de chefia”.
“Já alcançamos muito, mas o caminho é longo. Muito longo. Hoje, posso dizer, sem medo, que sou livre. Sou licenciada, profissional na área que eu escolhi, tenho poder de escolha do que faço, voz política e social. Sou tudo isto, porque abril me permitiu a ser”.
Carolina Pires Silva terminou o seu discurso com o apelo para que se conheça cada vez mais e melhor a história que “é fundamental para entender o presente e para construir o futuro”.
Por sua vez, Walter Chicharro, Presidente da Câmara Municipal, que dirigiu o seu discurso para uma data que é “um marco histórico na nossa sociedade que representa a conquista da liberdade, da democracia e da justiça social em Portugal”.
“49 anos depois, podemos afirmar que a Revolução dos Cravos marcou o início de uma nova era para Portugal. Os portugueses passaram a ter direito a expressar livremente as suas opiniões, a escolher os seus governantes através do voto e a participar ativamente na construção da nossa sociedade”.
Para o autarca “o concelho tem uma história importante e ativa na luta pelos direitos e liberdades dos seus habitantes. Os habitantes deste concelho sempre souberam lutar pelos seus direitos e pela sua liberdade”.
Walter Chicharro terminou o seu discurso expressando o seu “profundo respeito e gratidão aos homens e mulheres que lutaram pela nossa liberdade e democracia, e que nos deixaram um legado de coragem e perseverança que deve ser sempre lembrado e honrado. Que continuemos a lutar pelos nossos direitos e pela nossa liberdade, para que possamos construir uma sociedade cada vez mais justa e democrática. É tempo de gritar que não queremos o fascismo, o populismo ou qualquer outro ismo que nos queira devolver à ditadura”
A sessão encerrou com o discurso do Presidente da Assembleia Municipal, José Ramalhal, recordando que a data, que hoje tem 49 anos de idade, lhe está bem presente na memória.
“Nestes 49 anos apesar de muita mudança para melhor ainda muito ficou por fazer. Era expectável que passados estes anos não custasse tanto a concretizar a democracia no encontro de vontades e a concretização do bem comum”
José Ramalhal falou, ainda, da sua preocupação pelo elevado número da “abstenção e ausência de participação dos eleitores, que cria um vazio”.
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